sábado, 8 de setembro de 2012

Belo Horizonte vai ser 10


Livro de Graça na Praça comemora 10 anos de cultura partilhada em BH

Beto Vianna

Iluminuras

Zé Mauro é um iluminado. Não como no filme do Kubrick, mas no sentido da história das culturas, dessa partezinha boa da história ocidental em que é bonito o saber, é bonita a educação, é bonita a literatura. E bonito seria se todo esse conhecimento partilhado fosse partilhado por muito mais gente.
Foi com essa ideia na cabeça que, em 2003, o professor José Mauro da Costa juntou uns trocados e mandou publicar Ouvindo estrelas, um ajuntado de poemas que o Zé costumava dizer na escola de sua infância. Distribuía os exemplares sem muita ciência - um aqui, outro ali, um esquecido no branco da praça, outro escorrega na bolsa da amiga - mas a ideia rendeu, pois no ano seguinte Zé Mauro e alguns amigos editavam Atrás da porta, já contemplando a interação do público com os autores, formato que faz, até hoje, a alegria anual dos domingos na praça. Desde 2005, escritores convidados escrevem de graça seus contos para a obra, que é publicada, distribuída, autografada e assuntada de graça, para a população, na praça da Liberdade. Nasce e cresce o Livro de Graça na Praça.  
Dali até aqui, umas mudanças, próprias do crescimento. Os autores já não bancam sozinhos o prelo, acudidos pela cavalaria dos parceiros (hoje, o Sesc-Senac, a Aletria, a Imprensa Oficial, a Academia Mineira de Letras e o hotel Liberty). Aos escritores convidados, somam-se, desde 2006, três ganhadores do concurso nacional promovido anualmente pelo Sesc-Senac. Ao todo, foram 150 mil volumes distribuídos em Belo Horizonte. Livros “adultos”, obras para a gurilândia e os cordéis, inclusive um em braile, para ser acariciado por um universo ainda maior de leitores.
Entre os quase 200 contistas, cronistas, poetas, cordelistas e outros anarquistas que já participaram ou participam do projeto, muito literato do alto-clero, como Affonso Romano de Sant´Anna, Frei Betto, Olavo Romano, Fernando Brant e Ângela Vaz Leão. Mas aqui você se arrisca a encontrar dezenas de velhos desconhecidos do grande público, além de novos escritores cheios de letras pra dar. A turma do cordel é afiadíssima, muitos da Academia dos Cordelistas do Crato, no Ceará, gente que há anos pendura sua literatura Brasil adentro.
Aniversariando 10 anos, o Livro de Graça na Praça rende homenagem à cidade natal, com o título Belo Horizonte, à sua missão carinhosa, com o infanto-juvenil Todo livro ama crianças (organizado por Ronaldo Simões Coelho), e a si mesmo, com o cordel Livro de Graça na Praça: 10 anos, de Josenir Lacerda.

Só prós no projeto?

Sempre há umas questões. Essa é uma iniciativa que pesa no lado certo da balança da educação? Acho que sim. Uma crítica comum (já ouvi muito) é que há um componente paternalista ou assistencialista nessa história de pura e simplesmente distribuir livro de graça. Outra (contraditória à primeira) diz que o público que frequenta a praça da Liberdade nem tão carente de letramento é assim. Ao lado desses dois poréns - legítimos, a meu ver - há a desconfiança de que o projeto não é, de fato, franciscano, que organizadores, autores e colaboradores estão ganhando umas verdinhas no negócio. Começando desse último ponto, minha opinião (não partilhada pelos organizadores), é que essas pessoas deveriam, sim, ser remuneradas por esse trabalho de valor. Muita coisa ruim (em todos os sentidos) é muito bem paga, como bem sabemos. E quanto ao próprio valor? Cumpre mesmo essa função socializante, democratizante, o afazer do Livro de Graça na Praça?

Livro de Graça e boa educação

Assistencialismo só é palavra feia quando não tem efeito libertador para quem assiste e é assistido. No caso do Livro de Graça na Praça, há um mundo de culturas redentoras alimentado pelo simples fato de escritores e leitores (mesmo os iletrados) reunirem-se num mesmo lugar, numa manhã de domingo, para se debruçarem em torno do objeto-livro. O que torna excludente a nossa educação é insistir (isso já leva uns 200 anos) na crença de que a maioria da população não “sabe português” e, em vez de prover os meios de solucionar esse duvidoso problema, penalizar quem “fala errado”, negando a validade de sua língua materna.
Devo dizer, como linguista, que língua não se aprende na escola, mas em casa e na rua. Pelo menos tem sido assim nos últimos 100 mil anos da humanidade. A função da escola, e de espaços como o Livro de Graça na Praça, é oferecer as condições de manipular (entender, produzir, criticar) esse universo de meios e mensagens que ultrapassa os recursos da língua materna, pois são formas linguajeiras produzidas com uma tecnologia de ponta, complicadíssima, chamada cultura letrada.
Rico nem precisa da escola. Ele já tem seus canais privados de letramento, na forma de livros, filmes, discos, roupas, aparelhos eletrônicos e amigos igualmente ricos com quem conversar. E ainda complementa sua vida letrada com cursinhos de judô ou balé (ou o que seja). Dizia Darcy Ribeiro, é para o zé povinho que devemos, urgente, ampliar as possibilidades de apropriação da cultura culta, se é que queremos (nem todos queremos) que ele faça mais e melhor do que só nos servir.
A crítica de que a praça da Liberdade é antro da elite empalidece quando prestamos atenção à função libertadora do projeto. Envolver-se no universo do livro e da literatura é ganho pra quem merece ganhar, e o Livro de Graça na Praça, promovendo esse espaço de conversação, atua menos como (perdoe a metáfora bélica) flecha acertando um único alvo que como arma biológica, espalhando doença gratuita população afora. Os efeitos devem, espero, ser devastadores.
Belo Horizonte pode deixar de ser a metrópole do automóvel, das autopistas e das pedras debaixo do viaduto, e se tornar uma grande roça letrada, lida e escrita por seus habitantes, celebrando alegre (e com esperança) os primeiros 10 anos de livros de graça na praça. Este ano a coisa acontece dia 9 de setembro, a partir das 9 da manhã, na praça da Liberdade. Como emenda o cordelista Edésio Batista, “Enfim a festa se faça/ Em praça cheia de gente/ Com livro como presente”.


Publicado no jornal O Cometa Itabirano, ago/2012

2 comentários:

  1. Porque vocês não fazem livros de terror para nos tem crianças que não gosta de ler estes livros de conto de fadas Aff's e muito chato ficar lendo porque não faz um filme sobre o livro e mais legal tchau meu nome e Thácila e eu gostei de ajudar esta bobagem.

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  2. sabe porque vocês não tem nenhum comentário porque ninguei gosta d ler e chato então toma vergonha na cara e fação o livro virar DVD SZ amo vocês mentira odeio livro e a mesma pessoa do primeiro comentário tchau.

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